quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Lindo!

" E se o tempo levar você

E um dia eu te olhar e não te reconhecer

E se o romance se desconstruir

Perder o sentido

E eu me esquecer por ai


Mas nós somos um quadro de Klint

“O Beijo” para sempre fagulhando em cores

Resistindo a tudo seremos

Dois velhos felizes

De mãos dadas numa tarde de sol

Pra sempre"


Vanessa da Mata


OBS: Vou correndo comprar o álbum novo dela hoje mesmo. As letras são incríveis!!!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Crônica da Loucura

Enfim, voltei. E em meio ao corre corre do retorno ao trabalho, não resisti em dar uma passadinha por aqui para postar um texto que recebi hoje, do Mario Prata, da louca mais louca de todas (rs!). Na verdade, esse texto é uma singela homenagem às minhas loucuras criativas que tanto me fazem aprender com a vida! Isso porque tenho colocado lente de aumento em todas elas e procurado extrair tudo o que de melhor (e de pior) elas podem me mostrar. Muitas vezes doeu, mas hoje já estou sendo capaz de reconhecê-las com antecendência e até dar boas gargalhadas delas quando elas teimam em vir à tona. É aquele velho lema: "olhar a vida com olhos de aprendiz...".

Obrigada, queridíssima! :) Mais uma vez.

 " O melhor da terapia é ficar observando os meus colegas loucos.Existem dois tipos de loucos.O louco propriamente dito e o que cuida do louco: o analista, o terapeuta, o psicólogo e o psiquiatra. Sim,somente um louco pode se dispor a ouvir a loucura de seis ou sete outros loucos todos os dias, meses, anos.Se não era louco, ficou.
Durante quarenta anos, passei longe deles.Pronto, acabei diante de um louco, contando as minhas loucuras acumuladas. Confesso, como louco confesso, que estou, adorando estar louco semanal.
O melhor da terapia é chegar antes,alguns minutos e ficar observando os meus colegas loucos na sala de espera.Onde faço minha terapia é uma casa grande com oito loucos analistas.Portanto ,a sala de espera tem sempre tres ou quatro ali, ansiosos, pensando na loucura que vão dizer dali a pouco. Nimguém olha para ninguém.O silencio é uma loucura. E eu, como escritor, adoro observar pessoas, imaginar os nomes, a profissão, quantos filhos tem, se são rotarianos ou leoninos,corintianos ou palmeirenses. Acho que todo escritor gosta desse brinquedo, no mínimo , criativo.
É a sala de espera de um "consultório médico", como diz a atendente absolutamente normal( apenas uma pessoa normal lê tanto Paulo Coelho como ela), é um prato cheio para um louco escritor como eu.Senão, vejamos:
Na última quarta feira, estávamos eu, um crioulinho muito bem vestido, um senhor de uns cinquenta anos e uma velha gorda.Comecei, é claro, imediatamente a imaginar ,qual seria o problema da cada um deles? Não foi difícil , porque eu já partia do princípio que todos eram loucos, como eu. Senão não estariam ali, tão cabisbaixos e ensimesmados.
O pretinho , por exemplo. Claro que a cor, num pais racista como o nosso, deve ter contribuido muito para leva-lo até aquela poltrona de vime. Deve gostar de uma branca, e os pais dela não aprovam o casamento, pensei.Ou será que não conseguiu entrar como sócio do "Harmonia do Samba"? Notei que o tenis estava um pouco velho. Problema de ascensão social, com certeza. O olhar dele era triste , cansado.

Comecei a ficar com pena dele. Depois notei que ele trazia uma mala. Podia ser o corpo da namorada esquartejada lá dentro.Talvez apenas a cabeça. Devia ser um assassino, ou suicida, no mínimo. Podia ter também uma arma lá dentro. Podia ser perigoso. Afastei-me um pouco dele no sofá.Ele dava olhadas furtivas para dentro da mala assassina.
E o senhor de terno preto, gravata, meias e sapatos também pretos? Como ele estava sofrendo, coitado.Ele disfarçava , mas notei que tinha um pequeno tique no olho esquerdo. Corno, na certa. E manso. Corno manso sempre tem tiques. Já notaram? Observo as mãos. Roinha as unhas. Insegurança total, medo de viver. Filho drogado? Bem provável. Como era infeliz esse meu personagem. Uma hora tirou o lenço e eu já estava esperando as lágrimas quando ele assoou o nariz violentamente, interrompendo o Paulo Coelho da outra.Faltava um botão na camisa. Claro, abandonado pela esposa. Devia morar num flat, pagar caro, devia ter dívidas astronômicas. Homossexual? Acho que não. Ninguém beijaria um homem com um bigode daqueles. Tingido.
Mas a melhor, a mais doida, era a louca gorda e baixinha. Que bunda imensa. Como sofria, meu Deus. Bastava olhar no rosto dela. Não devia fazer amor há mais de trinta anos.Será que se masturbaria? Será que esse era o problema dela? Uma velha masturbadora? Não! Tirou um terço da bolsa e começou a rezar. Meu Deus, o caso é mais grave do que eu pensava. Estava no quinto cigarro em dez minutos.Tensa .Coitada.O que deve ser dos filhos dela? Acho que os filhos não comem a macarronada dela há dezenas e dezenas de domingos.Tinha cara também de quem mentia para o analista. Minha mãe rezaria uma Salve Rainha por ela, se a conhecesse.
Acabou o meu tempo. Tenho que ir conversar com o meu psicanalista.

Conto para ele a minha viagem na sala de espera. Ele ri, ri muito , o meu psicanalista.

-O Ditinho é o nosso office boy. O de terno preto é representante de um laboratório multinacional de remédios lá no Ipiranga e passa aqui uma vez por mes com as novidades. E a gordinha é a Dona Dirce, a minha mãe. E você não vai ter alta tão cedo!"

Mario Prata