segunda-feira, 26 de abril de 2010

Aos meus amigos de ontem, hoje e amanhã!

Loucos e Santos
Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco. Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
Oscar Wilde

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Sobre a Terra

Fui engolindo o mundo de uma vez,
até que ele me pareceu uma pedra seca e áspera.
Foi então que eu senti sede e bebi de um amor que não era meu.
De porre, andei pelo mundo, que eu já tinha cuspido,
e voltei pra casa insatisfeita.
Sentei na escada pensando se é isso mesmo,
se a vida é uma refeição indigesta que se come com a mão
para depois cuspir.
Vomitei toda a metafísica e larguei o amor que eu não tinha.
Enjoada de fome, olhei para a rua e vi aquela imensa quantidade de mundo.
Mundo demais para um dia só.
Foi aí que eu perdi a fome e saí pra jantar fora.
Fora de mim, é claro.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Alice Klesck

Desde que passei a usar o metrô com muita frequência, não teve nenhuma vez que as obras da artista plástica Alice Klesck não tenha me chamado a atenção.E hoje resolvi homenageá-la aqui no meu cantinho, afinal de contas, ela merece!

Suas obras coloridas, alegres e lúdicas, nos passam ALEGRIA em meio ao corre-corre da vida!

Obrigada, Alice, pelos instantes de distração que você tem me proporcionado!

Muito sucesso pra você! Sempre!

http://aliceklesck.com/novo/

DAQUELE jeito, sabe?!

Duas bolas, por favor!

Danuza Leão

" Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir sorvete de sobremesa, contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente uma bolinha minúscula do meu sorvete preferido. Uma só.

Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa. Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um litro de sorvete bem cremoso e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.

O sorvete é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano.

A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade...
A gente sai pra jantar, mas come pouco.
Vai a festa de casamento, mas resiste aos bombons.
Conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil (a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de 'fácil').
Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra nao desperdiçar os recursos do planeta.
Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo, mas tem medo de fazer papel ridículo.
Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar.
E por aí vai.

Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar', tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação...
Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e existencialmente sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão...
Às vezes dá vontade de fazer tudo 'errado'. Deixar de lado a régua, o compasso, a bússola, a balança e os 10 mandamentos.
Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito. Recusar prazeres incompletos e meias porções.

Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou e disse uma frase mais ou menos assim: 'Deus, dai-me continência e castidade, mas nao agora'....

Nós, que não aspiramos a santidade e estamos aqui de passagem, podemos (devemos?) desejar várias bolas de sorvete, bombons de muitos sabores, vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o coração saciado.

Um dia a gente cria juízo. Um dia. Não tem que ser agora.

Por isso, garçom, por favor, me traga: cinco bolas de sorvete de chocolate, um sofá pra eu ver 10 episódios do 'Law and Order' (euzinha os substituiria por 10 livros a lá "Travessuras da Menina Má"...rs!), uma caixa de trufas bem macias e o Richard Gere (pode ser o Santoro? rs!), nú, embrulhado pra presente.
OK? Não necessariamente nessa ordem.

Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago... "
Ai, ai... Diliça!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Rewinding

Insossas são as coisas,em meio à pressa dos dias.Correm apressados os moços, à procura do que lhes traz apresso.Ora gemem, ora sussurram, ora emudecem. Mas seguem em frente, marchando, à espera do que está por vir. Desconhecem-se e preferem não se ver. Ignoram-se. E deparam-se, introspectivos, com o medo escondido nas profundezas do viver. Mas enfrentam-se;
sentem-se, deixando ir todos os momentos descompassados, os quereres vazios, instantes perdidos. Simplesmente deixam-se anestesiar pela dor humana que habita todo ser sentido.
Faz parte.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Um manifesto à poesia!


A vida fluía por entre a calmaria da brisa mansa daqueles tempos. Não se pensava em furacão, terremotos ou desgraças afins. Pelo contrário. Sonhava-se a dois, a três, a mil. O Brasil, país do futuro, ainda era um sonho distante.

Canções melodiosas, com letras ingênuas e românticas, dominavam as vitrolas. O rádio perdia, aos poucos, o pedestal, mas sem perder sua importância, especialmente nos clássicos domingos de Maracanã.

O amor pairava no ar, por entre galanteios sinceros, por entre os ideais revolucionários, por entre a vontade de se construir uma grande nação.

E eis que conseguimos, creio eu, sinceramente.

Após muitos e muitos planos econômicos, crises econômicas que pareciam sem fim, os dados comprovam que os pobres estão menos pobres, o acesso a educação aumentou, a taxa de mortalidade infantil caiu vertiginosamente; o Brasil era, de fato, o país do futuro.

Mas e a poesia daqueles tempos? Onde foi parar?

Será que algum dia ela ainda voltará a impulsionar multidões como um dia o fez?

Até o futebol deixou de ser “O” futebol... Copa do Mundo hoje é, acima de tudo, um negócio super hiper multi milionário... Enfim, os tempos definitivamente mudaram, o que me desperta uma certa nostalgia, confesso.

2010, ano de Copa do Mundo, de eleições e dos meus 30 anos... E junto, um turbilhão de sentimentos emaranhados que me fazem questionar esses tempos malucos que a gente vive.
Na verdade esse post nostálgico é inspirado em Ricardito, personagem do livro "As Travessuras da Menina Má", do Mário Vargas Llosa, melhor livro que li nos últimos tempos.

Só espero que os meus filhos possam experienciar um mundo mais poético e menos líquido.