quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Homenagem atrasada a você!

" Penso que nada do que vivemos tem sentido se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que acaricia,
desejo que sacia,
amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo. É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais;
mas que seja intensa, verdadeira, pura... Enquanto durar."

(CoraCoralina)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Decolagem!

"Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração! Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente! Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE! Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer: - E daí? EU ADORO VOAR!”
(Clarice Lispector)

sábado, 5 de dezembro de 2009

Para a astrologia, o retorno de Saturno!

Há tempos não escrevo aqui. Atribuo o meu sumiço à canalização de toda a minha criatividade a outras direções.

Racionalizar se tornou preciso diante de tanto sentir.

E foi a partir dessa nova perspectiva, cartesiana e pragmática, que consegui identificar os verdadeiros obstáculos que estavam me impedindo a voar de balão e dar linha na pipa da minha vida.

Por a + b percebi a chegada do tempo de praticar o desapego para conseguir ser aquela que ainda hei de me tornar nesta vida.

E mergulhei de cabeça, sem colete salva-vidas, em um mar revolto, munida de uma única certeza: aquele mesmo mar, um dia, há de ser calmaria.

FORÇA! GARRA! LUTA! CORAGEM! CONFIANÇA! OUSADIA!

FÉ!

terça-feira, 3 de novembro de 2009


Momento de voar

A hora é esta! Arriscar-se, atirar-se destemidamente na direção do novo. Ainda que muitas pessoas possam se apavorar e tentar lhe demover daquilo que sua alma interpreta como um novo impulso criativo, não se incomode. As pessoas falam porque estão viciadas em certezas e seguranças. Mas O Louco, arcano zero do Tarot, vem lembrar que, eventualmente, alguma loucura é mais do que bem-vinda! Ponha sua vida em movimento e lembre-se que é sempre momento de recomeçar. Evite o medo e não espere as coisas tomarem uma forma “certa” para agir.
Vá!

Conselho: Momento de se atirar em novas direções, sem temor.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Faz parte....

Sacrifício soltar alguma coisa que você está segurando oua que você esteja apegado - desistir daquilo que lhe dá prazer por algo maior que pode trazer o melhor.
Sacrifício traz firmeza na vida. A vida sem sacrifício é estagnada. Sacrifício é um salto quântico; leva você a um nível mais alto.
Com frequência as pessoas pensam que sacrifício torna a vida árida e sem alegria. Na realidade, é o sacrifício que faz a vida valer a pena. Sacrifício cultiva sua magnanimidade e ajuda você a mover-se além da infelicidade. Uma vida sem sacrifício não vale nada. Zelo, entusiasmo, firmeza e alegria, todos vem do sacrifício.
Algumas pessoas reclamam, "Eu me sacrifiquei demais". Mas isso é bom. O pensamento do sacrifício deu a elas a firmeza para reclamar e poupa-as de blasfemarem contra si próprias. Sem isso essas pessoas estariam ainda mais deprimidas.
Sacrifício nunca passa sem recompensa. Não pode haver amor, sabedoria e alegria verdadeira sem sacrifício. Sacrifício torna você sagrado. Torne-se sagrado.

Sri Sri Ravi Shankar

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Desejos...

Eu desejo que desejes ser feliz de um modo possível e rápido, desejo que desejes uma via expressa rumo a realizações não-utópicas, mas viáveis, que desejes coisas simples como um suco bem gelado depois de correr ou um abraço ao chegar em casa, desejo que desejes com discernimento e com alvos bem-mirados. Mas desejo também que desejes com audácia, que desejes uns sonhos descabidos e que ao sabê-lo impossíveis não os leve em grande consideração, mas os mantenha acesos, livres de frustração, desejes com fantasia e atrevimento, estando alerta para as casualidades e os milagres, para o imponderável da vida, onde os desejos secretos são atendidos. Desejo que desejes trabalhar melhor, que desejes amar com menos amarras, que desejes parar de fumar, que desejes viajar para bem longe e desejes voltar para teu canto, desejo que desejes crescer e que desejes o choro e o silêncio, através deles somos puxados pra dentro, eu desejo que desejes ter a coragem de se enxergar mais nitidamente. Mas desejo também que desejes uma alegria incontida, que desejes mais amigos, e nem precisam ser melhores amigos, basta que sejam bons parceiros de esporte e de mesa de bar, que desejes o bar tanto quanto a igreja, mas que o desejo pelo encontro seja sincero, que desejes escutar as histórias dos outros, que desejes acreditar nelas e desacreditar também - faz parte este ir-e-vir de certezas e incertezas -, que desejes não ter tantos desejos concretos, que o desejo maior seja a convivência pacífica com os outros que desejam outras coisas. Desejo que desejes alguma mudança, uma mudança que seja necessária e que ela não te pese na alma; mudanças são temidas, mas não há outro combustível para essa travessia. Desejo que desejes um ano inteiro de muitos meses bem fechados, que nada fique por fazer, e desejo, principalmente, que desejes desejar, que te permitas desejar, pois o desejo é vigoroso e gratuito, o desejo é inocente, não reprime teus pedidos ocultos, desejo que desejes vitórias, romances, diagnósticos favoráveis, aplausos, mais dinheiro e sentimentos vários, mas desejo antes de tudo que desejes, simplesmente.

(Martha Medeiros)

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O Deus das Pequenas Coisas

"'Me sinto uma fracassada'.Não é uma frase fácil de se ouvir de alguém. Soa até mesmo incompreensível quando se trata de uma mulher linda, rica, que mora numa casa deslumbrante, passa uma parte do ano no Brasil e a outra em Nova York, é casada com um homem igualmente lindo e apaixonado por ela, tem dois filhos que são uns doces, é uma profissional bem-sucedida e já deu a volta ao mundo uma meia-dúzia de vezes. O que é que falta? “Um projeto de vida”, responde ela.Existe uma insaciedade preocupante nessa mulher e em diversas outras mulheres e homens que conquistaram o que, a priori, todos desejam, e que ainda assim não conseguem preencher o seu vazio. Um projeto de vida, o que vem a ser? No caso de quem tem tudo, pode ser escrever um livro, adotar uma criança, engajar-se numa causa social, abrir um negócio próprio, enfim, algo grandioso quando já se tem tudo de grande: amor, saúde, dinheiro e realização profissional. Mas creio que esse projeto de vida que falta a tantas pessoas consiste justamente no que é considerado pequeno e, por ser pequeno, novo para quem não está acostumado a se deslumbrar com o que se convencionou chamar de “menor”.Onde é que se encontra o sublime? Perto. Ao regar as plantas do jardim. Ao escolher os objetos da casa conforme a lembrança de um momento especial que cada um deles traz consigo. Lendo um livro. Dando uma caminhada junto ao mar, numa praça, num campo aberto, onde houver natureza. Selecionando uma foto para colocar no porta-retrato. Escolhendo um vestido para sair e almoçar com uma amiga. Acendendo uma vela ou um incenso. Saboreando um beijo. Encantando-se com o que é belo. Reverenciando o sol da manhã depois de uma noite de chuva. Aceitando que a valorização do banal é a única atitude que nos salva da frustração. Quando já não sentimos prazer com certas trivialidades, quando passamos a ter gente demais fazendo as tarefas cotidianas por nós, quando trocamos o “ser feliz” pelo “parecer feliz”, nossas necessidades tornam-se absurdas e nada que viermos a conquistar vai ser suficiente, pois teremos perdido a noção do que a palavra suficiente significa.Sei que tudo isso parece fácil e que não é. Algumas pessoas não conseguem desenvolver essa satisfação interna que faz com que nos sintamos vitoriosos simplesmente por estarmos em paz com a vida, mesmo possuindo problemas, mesmo tendo questões sérias a resolver no dia a dia. É inevitável que se pense que a saída está na religião, mas dedicar-se a uma doutrina, seja qual for, pode ser apenas fuga e desenvolver a alienação. Mais do que rezar para um deus profético e soberano, acredito que o que nos sustenta passa sim, por uma espiritualidade, porém menos dogmática. É o cultivo de um espírito de gratidão, sem penitências, culpas, pecados e outras tranqueiras. Gratidão por estarmos aqui e por termos uma alma capaz de detectar o sublime no essencial, fazendo com que todo o supérfluo, que não é errado desejar e obter, torne-se apenas uma consequência agradável desse nosso olhar íntimo e amoroso a tudo o que nos cerca."
Martha Medeiros

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Viva eu, viva tu, viva o rabo do tatú!!!! :)

Precisamos aprender com os outros apenas o que não nos foi possível aprender sozinho.

A necessidade de aprender é biológica, ela se faz sempre de dentro para fora.

O impulso pela busca do conhecimento é mais importante que a coisa conhecida.
Perguntar é o ato mais espontâneo e o único realmente indispensável na formação cultural. Não se é livre para perguntar em ambiente autoritário.

Somos todos diferentes uns dos outros, inclusive pelo interesse em conhecer.

Soma

Roberto Freire

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Awake !!!!!

A melhor sensação que se pode sentir é a vontade de ir além, de se superar, de enfrentar desafios, quebrar records; aquela vontade que te faz levantar de manhã cedinho com toda a disposição do mundo, mesmo depois de varar a noite aprendendo...
Aquela que move, que faz vibrar, que acorda!

ABRA OS OLHOS!

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A angústia da múltipla escolha


Não creio que estejamos mais infelizes no amor, mas um pouco tontos. Possibilidades nos atraem e paralisam. O que cada um de nós quer e precisa?
Outro dia um jornalista me perguntou se eu achava que as pessoas andavam muito infelizes em suas vidas amorosas. Eu não tenho procuração para responder pelos outros, mas acho que o termo “infeliz” é um pouco dramático. Conheço inúmeros casais que vão muito bem, obrigado. O que existe hoje talvez seja uma angústia generalizada em razão da quantidade de portas que a liberação sexual nos ofertou. Tem a porta A, que nos leva a um casamento monogâmico, a porta B que nos leva a um caso extraconjugal, a porta C que nos leva a uma vida de solteiro com inúmeros romances, a porta D que nos leva a uma bissexualidade ativa, a porta E que nos leva à paternidade, a porta F que nos leva à separação, a porta G que nos leva a uma solidão escolhida, a porta H que nos leva ao convento, a porta I que nos leva a um clube de swing, a porta J que nos leva a encontros virtuais, e as portas seguem se multiplicando nesse corredor de ofertas.

Antes a vida tinha menos opções. Você casava para sempre e constituía uma família, já que a reprodução era a razão de ser da sexualidade. Ou então não casava e virava tia, uma mulher à margem, que não havia dado sorte, coitada. Os homens tinham um pouco mais de liberdade, mas também acabavam aprisionados pela ética vigente: ou se transformavam em reprodutores e provedores, ou não eram boa coisa.

Depois que a pílula anticoncepcional entrou no mercado, sexo deixou de existir apenas para procriação e passou a existir pelo prazer. E o prazer é múltiplo, advém de arranjos variados. Mesmo ainda pressionados por alguns padrões, hoje temos mais informação e mais autonomia para bater à porta do estilo de vida que acreditamos que nos trará mais satisfação. O problema é que esse prazer, que antes era facultativo, virou obrigatório. Ai de você se não tiver “x” parceiros no seu currículo, “n” orgasmos a cada transa, enfim, uma biografia de arrebentar. Sua vida erótica tem que ser nada menos que inimitável. Ela passou a ser mais importante do que sua vida emocional, ao menos pra consumo externo.

Deveriam andar juntos, amor e sexo. Isso restringiria o número de portas e, por consequência, a angústia de ter que escolher apenas uma e renunciar às outras. Mas amor e sexo não andam mais juntos, e as pessoas ficam perdidas, procurando um amor estável e ao mesmo tempo se abrindo para emoções efêmeras, tentando canalizar seu desejo e ao mesmo tempo sendo excitadas por inúmeros estímulos que chegam da tevê, do cinema e das revistas.

Não creio que estejamos mais infelizes no amor, mas um pouco tontos, certamente. Muitas possibilidades nos atraem e ao mesmo tempo nos paralisam. O que cada um de nós quer e precisa? Foco e autoconhecimento para transitar nesse freeshop erótico-afetivo sem virar refém do próprio deslumbre.

Martha Medeiros

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

É mais além... Carla Dias

http://crondia.blogspot.com/2009/09/e-mais-alem-carla-dias.html

Viajando de balão! :)

Simplesmente não há regras.
O que é ser bem sucedido?
O que é amor?
O que é compreensão?
O que é verdade?
O que se sente?
O que se quer pra si?
Qual o objetivo ao final desse longo caminho?
O que preenche o vazio?
Qual o caminho certo?
O que faz sentido diante de tantas perguntas?
Desejo, realidade, ilusão?
Perguntar pra quê se a resposta é desconhecida?
Mas há sempre o tempo em que as respostas aparecem,
mesmo que por um breve momento.
Basta estar alerta!
Fato, existe resposta.
ACREDITAR SENTINDO!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

É QUARTA-FEIRA DE CINZAS!


É quarta-feira de cinzas! Mas por aqui não há melancolia apesar da inevitável nostalgia dos dias de carnaval. Tudo tem seu tempo. É hora de guardar a fantasia de Colombina no armário e substituí-la por vestes de tons mais sóbrios. É hora de seriedade. Troco a Colombina pela Ana Guerra trajada com seu terninho creme. Sem-graça? Muitas vezes. Mas o creme há de existir pra fazer valer o brilho colorido da saia de chita, aquela mais leve. A realidade se faz necessária. SEMPRE!
Faz-se o tempo das redescobertas.

De tudo, o que mais importa é que mesmo em meio a aparente tristeza, a alegria teima em se fazer presente! Ela mora em mim!
E vamos em frente!
Na luta diária por ser quem SE SENTE!

sábado, 5 de setembro de 2009

Speechless



Obrigada, Gabi! :)

Prudência

"Desiderata
Siga tranqüilamente entre a inquietude e a pressa, lembrando-se que há sempre paz no silêncio. Tanto que possível, sem humilhar-se, viva em harmonia com todos os que o cercam.

Fale a sua verdade mansa e calmamente e ouça a dos outros, mesmo a dos insensatos e ignorantes – eles também tem sua própria história.

Evite as pessoas agressivas e transtornadas, elas afligem nosso espírito. Se você se comparar com os outros você se tornará presunçoso e magoado, pois haverá sempre alguém inferior e alguém superior a você. Viva intensamente o que já pode realizar.

Mantenha-se interessado em seu trabalho, ainda que humilde, ele é o que de real existe ao longo de todo tempo. Seja cauteloso nos negócios, porque o mundo está cheio de astúcia, mas não caia na descrença, a virtude existirá sempre.

“Você é filho do Universo, irmão das estrelas e árvores. Você merece estar aqui e mesmo que você não possa perceber a terra e o universo vão cumprindo o seu destino.”

Muita gente luta por altos ideais e em toda parte a vida está cheia de heroísmos.

Seja você mesmo, principalmente, não simule afeição nem seja descrente do amor; porque mesmo diante de tanta aridez e desencanto ele é tão perene quanto a relva.

Aceite com carinho o conselho dos mais velhos, mas seja compreensível aos impulsos inovadores da juventude.

Alimente a força do Espírito que o protegerá no infortúnio inesperado, mas não se desespere com perigos imaginários, muitos temores nascem do cansaço e da solidão.

E a despeito de uma disciplina rigorosa, seja gentil para consigo mesmo. Portanto esteja em paz com Deus, como quer que você O conceba, e quaisquer que sejam seus trabalhos e aspirações, na fatigante jornada da vida, mantenha-se em paz com sua própria alma.

Acima da falsidade, dos desencantos e agruras, o mundo ainda é bonito, seja prudente.
FAÇA TUDO PARA SER FELIZ "

Max Ehrmann

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Afeto


O cão vira-lata passa assustado. Chamo-o. Ele foge. Dou mais um passo e ele corre. “- Vem aqui cachorrinho!”, digo em voz alta. Abaixo-me. Fico do seu tamanho. "-Venha aqui. Só quero te fazer carinho. Quero te abraçar. Quero te ver. Quero cuidar de você!". Ele vem de mansinho, duvidoso. Será? E vem cada vez mais. Mas sinto que qualquer movimento brusco ou voz alta poderá espantá-lo. Então falo bem baixinho e estendo minha mão. "- Quero ser sua amiga, vem comigo!". E ele vem. Devagarzinho, devagarzinho. Ele veio sozinho.

Sento-me no meio-fio, em silêncio. Ele me olha. Eu olho pra ele fazendo sinal de que está tudo bem. Então fecho os olhos. Sinto sua presença. E logo percebo uma inexplicável afinidade. Dentro de mim um sentimento novo e estranho. O que fazer? Milhões de pensamentos. Mas logo ele se vai. Fico atônita. Surpresa. Mas logo ele pára e volta a me olhar. Permaneço inerte. Sinto que o menor movimento poderá assustá-lo. Não quero que se vá e por isso não me movo. Sinto que tem medo. Subitamente, ele retorna lentamente. E digo-lhe em pensamento: "- Vem, pode vir. Está tudo bem. Sou amiga. Confie em mim. Não há o que temer."

E ali, sentada no meio-fio, o cão me olha. Parece que me entende. Parece que fala. Acho que fala. Sabe da aproximação. Sabe do escuro da distância e da claridade de estar junto. Conhece o medo. Mas também conhece a liberdade de ser só. E de repente percebe o conforto da minha companhia. E se aproxima, mais e mais.

Ficamos próximos. Mas quase não nos encostamos. Tememos nossas diferenças. E a provável efemeridade daquele instante. Tão concreto que engana como sendo eterno. Mas sentimos paz, conforto, confiança. O verdadeiro pulsar da vida. E é então que percebemos que falamos a mesma língua, a do coração.

Levanto-me. Começo a caminhar em direção a minha casa. Ele me acompanha, lado a lado comigo. E seguimos caminhando em silêncio. Precioso silêncio.

Caminhamos distraídos por algum tempo. Não sei o quanto. E ele sempre atrás de mim. Como se quisesse cuidar de mim. Eu parava, ele parava. Eu andava, ele andava. Pela beira da calçada tentava disfarçar que não queria me perder de vista. Mas seguia com a cabeça baixa, cabreiro. Lentamente, balançava timidamente seu rabo. Então achei que se chamasse ele viria correndo e eu seria sua companhia para sempre. Chamei uma vez e ele não veio. Mas continuou me seguindo, mantendo-se próximo embora distante.

Até que cheguei em casa. Atravessei o portão e ele me seguiu. Sentei-me no chão da varanda. E o cãozinho vira-lata se aproximou e deitou-se ao meu lado. Acariciei delicadamente seu pêlo curto, com toda a minha doçura. Ele apoiou sua cabeça na minha perna e disse sem palavras, quase que em súplica: "- Continua, continua".

Mas na manhã do dia seguinte ele já não estava lá.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Tarot Personare

A Estrela
Cultivando altos valores

Há momentos em que somos testados a manter uma fidelidade a uma postura mais sublime, em termos de reação ao mundo que nos cerca. A Estrela, significante de conselho para este momento em sua vida, vem sugerir a necessidade de cultivar a esperança como uma forma de manter acesa a sua luz interior. Ainda que os elementos concretos lhe desafiem ou lhe forneçam sinais negativos, é a sua postura de pensamento positivo que lhe permitirá superar os obstáculos, Ana. Procure manter o alto astral, a postura positiva e não desanime. Atue de forma clara, aberta, sem joguinhos, e no mínimo as pessoas lhe darão o maior valor!

Conselho: Pense positivo!

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Surto consciente

Contemplação

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Surtei foi de fascínio.

Foi de ver os lábios ressecados serem banhados pela água do copo,
Num simples gesto de secura.
E de, em seguida, esquadrinhar a geografia do sorriso minado.
Foi de engolir a seco o até logo,
Ainda que melindrando a partida.
E também de ter presenciado os olhos aguarem por dor de amor,
De saudade.
E de como negou se entregar a esse desfecho,
Temendo não mais voltar do abismo que ele oferecia.

Surtei foi de vontades.

De alisar-lhe a face com as costas da minha mão vazia.
Que nelas houvesse o mapa que desse no carinho que necessitava.
Que o gesto fosse de riqueza apaziguadora,
E que do abraço vertesse essa poesia que jamais consegui decifrar:
Compartilhamento.
E o tempo fosse embalado pelos bons ventos.
Que chovesse girassóis.
Que dessem frutos no jardim.
Que avermelhasse de pôr-do-sol esse dia.

Surtei também de tristeza.

De parecer infinito e sem brandura esse caminho.
Por ter no bojo da minha alma a fadiga aninhada.
De temer o começo do fim dessa benquerença de intensidade que sei...
Dará em saudade que jamais partirá.
E de velar a realidade na crueza das restrições.

Surtei de esperança.

Porque não há como negar a beleza do abrir os olhos.
O gosto de tomar café quente em dia frio.
As gargalhadas dos amigos, depois de contarmos uma piada sem graça.
E porque me volta,
E sempre,
A lembrança de como fala tão manso,
Como se entoasse uma canção que, ainda que repetida,
Soaria inédita.

Uma canção de afetos.

Carla Dias
www.carladias.com

terça-feira, 1 de setembro de 2009

It doesn't matter ...



Sem palavras - Moveis Coloniais de Acaju

"Eu sei que nada tenho a dizer
Seria tudo muito melhor
Se a música falasse por si só
Dá raiva da vida
Nada existe sem classificar
Penso, tento
Achar palavras pro meu sentimento
Tanto é pouco, nada diz
Não é triste, nem feliz
Mesmo sendo
Um pranto, um choro ou qualquer lamento
Nada importa, tanto faz
Se é pra sempre ou nunca mais
Pensei em mil palavras, e enfim
Nenhuma das palavras coube em mim
Não vejo saída
Como vou dizer sem me calar?
Diria mudo tudo o que faz
Minha vida andar de frente para trás
Uma frase perdida
Num discurso feito de olhar"

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Obra do acaso

Sinto uma dor preenchida por mim. A dor em si preenche. Responsabilidades me preenchem. Há muito o que fazer segunda-feira pela manhã, apesar do amor que sei que está a me esperar por uma dentre tantas esquinas da vida. Apesar do amor (daquele Amor!), há um horizonte tão grande, tão amplo, que torna a minha visão turva ...
Ah, o amor! Tem horas que enebria e faz agir sem pensar.

Amor líquido, amor fulgás, amor insensato, amor humano....
Mas de qualquer forma, Amor!
A qualquer tempo, de qualquer jeito!...
O Amor sempre acontece. É obra do acaso.
E sigo por entre as esquinas da vida...

Valeu MEU IRMÃO: O Milagre de um novo dia (Silvia Plath)!

O Milagre de um novo dia

Hoje eu me levantei cedo pensando no que tenho
para fazer antes que o relógio marque meia noite.
Eu tenho responsabilidades para cumprir hoje.
Eu sou importante.
É minha função escolher que tipo de dia terei hoje.

Hoje eu posso reclamar porque está chovendo
ou posso agradecer às águas
por lavarem energias pesadas.

Hoje eu posso ficar triste por não ter muito dinheiro
ou posso me sentir encorajado para administrar
minhas finanças sabiamente,
mantendo-me longe de desperdícios.

Hoje eu posso reclamar sobre minha saúde
ou posso dar graças a Deus por estar vivo.

Hoje eu posso me queixar dos meus pais
por não terem me dado tudo que eu queria
quando estava crescendo,ou posso ser
grato a eles por terem permitido que eu nascesse.

Hoje eu posso lamentar decepções com amigos
ou posso observar oportunidades
de ter novas amizades.

Hoje eu posso reclamar por ter que trabalhar
ou posso vibrar de alegria por ter um trabalho
que me põe ativo.

Hoje eu posso choramingar por ter que ir à escola
ou abrir minha mente com entusiasmo
para novos conhecimentos.

Hoje eu posso sentir tédio com trabalho doméstico
ou posso agradecer a Deus por ter dado-me a bênção
de um teto que abriga meus pertences,
meu corpo e minha alma.

Hoje eu posso olhar para o dia de ontem
e lamentar as coisas que não saíram como
eu planejei ou posso alegrar-me
por ter o dia de hoje para recomeçar.

O dia de hoje está à minha frente esperando
para ser o que eu quiser.
E aqui estou eu, o escultor que pode dar-lhe forma.

Depende de mim como será o dia de hoje
diante de tudo que encontrarei.

A escolha está em minhas mãos:
Hoje eu posso enxergar minha vida vazia
ou posso alegremente receber
o Milagre de Um Novo Dia!

Tradução: Silvia Schmidt

domingo, 30 de agosto de 2009

Você toca minha mão, eu toco na sua.

Brotam espaços azuis quando penso. No meu pensamento, você nunca me critica por eu ser um pouco tolo, meio melodramático, e penso então tule nuvem castelo seda perfume brisa turquesa vime.E deito a cabeça no seu colo ou você deita a cabeça no meu, tanto faz, e ficamos tanto tempo assim que a terra treme e vulcões explodem e pestes se alastram e nós nem percebemos, no umbigo do universo. Você toca minha mão, eu toco na sua.
Caio Fernando Abreu

A história das borboletas...

André enlouqueceu ontem à tarde. Devo dizer que também acho um pouco arrogante de minha parte dizer isso assim – enlouqueceu -, como se estivesse perfeitamente seguro não só da minha sanidade mas também da capacidade de julgar a sanidade alheia. Como dizer então? Talvez: André começou a comportar-se de maneira estranha, por exemplo? ou : André estava um tanto desorganizado; ou ainda: André parecia muito necessitado de repouso. Seja como for, depois de algum tempo, e aos poucos, tão levemente que apenas ontem à tarde resolvi tomar essa providência, André – desculpem a minha audácia ou arrogância ou empáfia ou como queiram chamá-la, enfim: André enlouqueceu completamente. Pensei em levá-lo para uma clínica, lembrava vagamente de ter visto no cinema ou na televisão um lugar cheio de verde e pessoas muito calmas, distantes e um pouco pálidas, com o olhar fora do mundo, lendo ou recortando figurinhas, cercadas por enfermeiras simpáticas, prestativas. Achei que André seria feliz lá. E devo dizer ainda que gostaria de vê-lo feliz, apesar de tudo o que me fez sofrer nos últimos tempos. Mas bastou uma olhada no talão de cheques para concluir que não seria possível. Então optei pelo hospício. Sei, parece um pouco duro dizer isso assim, desta maneira tão seca: então-optei-pelo-hospício. As palavras são muito traiçoeiras. Para dizer a verdade, não optei propriamente. Apenas:
1º) eu tinha pouquíssimo dinheiro e André menos ainda, isto é, nada, pois deixara de trabalhar desde que as borboletas nasceram em seus cabelos;
2º) uma clínica custa dinheiro e um hospício é de graça.
Além disso, esses lugares como aquele que vi no cinema ou na televisão ficam muito retirados – na Suíça, acho -, e eu não poderia visitá-lo com tanta freqüência como gostaria. O hospício fica aqui perto. Então, depois desses esclarecimentos, repito: optei pelo hospício. André não opôs resistência nenhuma. Às vezes chego a pensar que ele sempre soube que, de uma forma ou outra, fatalmente acabaria assim. Portanto, coloquei-o num táxi, depois desembarcamos, atravessamos o pátio e, na portaria, o médico de plantão nem sequer fez muitas perguntas. Apenas nome, endereço, idade, se já tinha estado lá antes essas coisas – ele não dizia nada e eu precisei ir respondendo, como se o louco fosse eu e não ele. Ah: nem por um minuto o médico duvidou da minha palavra. Pensei até que, se André não estivesse realmente louco e eu dissesse que sim, bastaria isso para que ele ficasse por lá durante muito tempo. Mas a cara dele não enganava ninguém, sem se mover, sem dizer nada, aqueles olhos parados, o cabelo todo em desordem. Quando dois enfermeiros iam levá-lo para dentro eu quis dizer alguma coisa, mas não consegui. Ele ficou ali na minha frente, me olhando. Não me olhando propriamente, havia muito tempo que não olhava mais para nada, seus olhos pareciam voltados para dentro, ou então era como se transpassassem as pessoas ou objetos para ver, lá no fundo deles, uma coisa que nem eles próprios sabiam de si mesmos. Eu me sentia mal com esse olhar, porque era um olhar muito… muito sábio, para ser franco. Completamente insano, mas extremamente sábio. E não é nada agradável ter em cima de você, o tempo todo, na sua própria casa, um olhar desses, assim trans-in-lúcido. Mas de repente seus olhos pareceram piscar, mas não devem ter piscado – devo esclarecer que, para mim, piscar é uma espécie de vírgula que os olhos fazem quando querem mudar de assunto. Sem piscar, então, os olhos dele piscaram por um momento e voltaram daquele mundo para onde André havia se mudado sem deixar endereço. E me olharam os olhos dele. Não para uma coisa minha que nem eu mesmo via, através de mim, mas para mim mesmo fisicamente, quero dizer: para este par de órgãos gelatinosos situados entre a testa e o nariz, meus olhos, para ser mais objetivo. André olhou bem nos meus olhos, como havia muito não fazia, e fiquei surpreso e tive vontade de dizer ao médico de plantão que era tudo um engano, que André estava muito bem, pois se até me olhava nos olhos como se me visse, pois se recuperara aquela expressão atenta e quase amiga do André que eu conhecia e que morava comigo, como se me compreendesse e tivesse qualquer coisa assim como que uma vontade de que tudo desse certo para mim, sem nenhuma mágoa de que eu o tivesse levado para lá. Como se me perdoasse, porque a culpa não era minha, que estava lúcido, nem tampouco dele, que enlouquecera. Quis levá-lo de volta comigo para casa, despi-lo e lambê-lo como fazia antigamente, mas havia aquele monte de papéis assinados e cheios de x nos quadradinhos onde estava escrito solteiro, masculino, branco, coisas assim, os enfermeiros esperando ali do lado, já meio impacientes . tudo isso me passou pela cabeça enquanto o olhar de André pousava sobre mim e sua voz dizia: * – Só se pode encher um vaso até a borda. Nem uma gota a mais. Então vim embora. Os enfermeiros seguraram seus braços e o levaram para dentro. Havia alguns outros loucos espiando pela janela. Eram feios, sujos, alguns desdentados, as roupas listradinhas, encardidas, fedendo. Pensei que o médico ia colocar a mão no meu ombro para depois dizer coragem, meu velho, como tenho visto no cinema. Mas ele não fez nada disso. Baixou a cabeça sobre o monte de papéis como se eu não estivesse mais ali, dei meia volta sem dizer nada do que eu queria dizer, que cuidassem bem dele, não o deixassem subir no telhado, recortar figurinhas de papel o dia inteiro, ou retirar borboletas do meio dos cabelos como costumava fazer. Atravessei devagar o pátio cheio de loucos tristes, hesitei no portão de ferro, depois resolvi voltar a pé para casa. Era de tardezinha, estava horrível na rua, com todos aqueles automóveis, aquelas pessoas desvairadas, as calçadas cheias de merda e lixo, eu me sentia mal e muito culpado. Quis conversar com alguém, mas me afastara tanto de todos depois que André enlouquecera, e aquele olhar dele estava me rasgando por dentro, eu tinha a impressão de que o meu próprio olhar tinha se tornado como o dele, e de repente já não era mais uma impressão. Quando percebi, estava olhando para as pessoas como se soubesse alguma coisa delas que nem elas mesmas sabiam. Ou então como se as transpassasse. Eram bichos brancos e sujos. Quando as transpassava, via o que tinha sido antes delas, e o que tinha sido antes delas era uma coisa sem cor nem forma, eu podia deixar meus olhos descansarem lá porque eles não se preocupavam em dar nome ou cor ou jeito a nenhuma coisa, era um branco liso e calmo. Mas esse branco liso e calmo me assustava e, quando tentava voltar atrás, começava a ver nas pessoas o que elas não sabiam de si mesmas, e isso era ainda mais terrível. O que elas não sabiam de si era tão assustador que me sentia como se tivesse violado uma sepultura fechada havia vários séculos. A maldição cairia sobre mim: ninguém me perdoaria jamais se soubesse que eu ousara.
(*) Tao Te-King: Lao Tse.
Mas alguma coisa em mim era mais forte que eu, e não conseguia evitar de ver e sentir atrás e além dos sujos bichos brancos, então soube que todos eles na rua e na cidade e no país e no mundo inteiro sabiam que eu estava vendo exatamente daquela maneira, e de repente já não era mais possível fingir nem fugir nem pedir perdão ou tentar voltar ao olhar anterior . e tive certeza de que eles queriam vingança, e no momento em que tive certeza disso, comecei a caminhar mais depressa para escapar, e Deus, Deus estava do meu lado: na esquina havia um ponto de táxi, subi num, mandei tocar em frente, me joguei contra o banco, fechei os olhos, respirei fundo, enxuguei na camisa as palmas visguentas das mãos. Depois abri os olhos para observar o motorista (prudentemente, é claro). Ele me vigiava pelo espelho retrovisor. Quando percebeu que eu percebia, desviou os olhos e ligou o rádio. No rádio, uma voz disse assim: Senhoras e senhores, são seis horas da tarde. Apertem os cintos de segurança e preparem suas mentes para a decolagem. Partiremos em breve para uma longa viagem sem volta. Atenção, vamos começar a contagem regressiva: dez-nove-oito-sete-seis-cinco… Antes que dissesse quatro, soube que o motorista era um deles. Mandei-o parar, paguei e desci. Não sei como, mas estava justamente em frente à minha casa. Entrei, acendi a luz da sala, sentei no sofá. A casa quieta sem André. Mesmo com ele ali dentro, nos últimos tempos a casa era sempre quieta: permanecia em seu quarto, recortando figurinhas de papel ou encostado na parede, os olhos olhando daquele jeito, ou então em frente ao espelho, procurando as borboletas que nasciam entre seus cabelos. Primeiro remexia neles, afastava as mechas, depois localizava a borboleta, exatamente como um piolho. Num gesto delicado; apanhava-a pelas asas, entre o polegar e o indicador, e jogava-a pela janela. Essa era das azuis . costumava dizer, ou essa era das amarelas ou qualquer outra cor. Em seguida saía para o telhado e ficava repetindo uma porção de coisas que eu não entendia. De vez em quando aparecia uma borboleta negra. Então tinha violentas crises, assustava-se, chorava, quebrava coisas, acusava-me. Foi na última borboleta negra que resolvi levá-lo para o lugar verde, e mais tarde, para o hospício mesmo. Ele quebrou todos os móveis do quarto, depois tentou morder-me, dizendo que a culpa era minha, que era eu quem colocava as borboletas negras em seus cabelos, enquanto dormia. Não era verdade. Enquanto dormia, eu às vezes me aproximava para observá-lo. Gostava de vê-lo assim, esquecido, os pêlos claros do peito subindo e descendo sobre o coração. Era quase como o André que eu conhecera antes, aquele que mordia meu pescoço com fúria nas noites suadas de antigamente. Uma vez cheguei a passar os dedos nos seus cabelos. Ele despertou bruscamente e me olhou horrorizado, segurou meu pulso com força e disse que agora eu não poderia fingir que não era eu, que tinha me surpreendido no momento exato da traição. Era assim, havia muito tempo, eu estava fatigado e não compreendia mais. Mas agora a casa estava sem André. Fui até o banheiro atulhado de roupas sujas, a torneira pingando, a cozinha com a pia transbordando pratos e panelas de muitas semanas, a janela de cortinas empoeiradas e o cheiro adocicado do lixo pelos cantos, depois resolvi tomar coragem e ir até o quarto dele. André não estava lá, claro. Apenas as revistas espalhadas pelo chão, a tesoura, as figurinhas entre os cacos dos móveis quebrados. Apanhei a tesoura e comecei a recortar algumas figurinhas. Inventava histórias enquanto recortava, dava-lhes profissões, passados, presentes, futuros era mais difícil, mas dava-lhes também dores e alguns sonhos. Foi então que senti qualquer coisa como uma comichão entre os cabelos. Aproximei-me do espelho, procurei. Era uma borboleta. Das azuis, verifiquei com alegria. Segurei-a entre o polegar e o indicador e soltei-a pela janela. Esvoaçou por alguns segundos, numa hesitação perfeitamente natural, já que nunca antes em sua vida estivera sobre um telhado. Quando percebi isso, subi na janela e alcancei as telhas para aconselhá-la: – É assim mesmo . eu disse. . O mundo fora de minha cabeça tem janelas, telhados, nuvens e aqueles bichos brancos lá embaixo. Sobre eles, não se detenha demasiado, pois correrá o risco de transpassá-los com o olhar ou ver neles o que eles próprios não vêem, e isso seria tão perigoso para ti quanto para mim violar sepulcros seculares, mas, sendo uma borboleta, não será muito difícil evitá-lo: bastará esvoaçar sobre as cabeças, nunca pousar nelas, pois pousando correrás o risco de ser novamente envolvida pelos cabelos e reabsorvida pelos cérebros pantanosos e, se isso for inevitável, por descuido ou aventura, não deverás te torturar demasiado, de nada adiantaria, procura acalmar-te e deslizar pra dentro dos tais cérebros o mais suavemente possível, para não seres triturada pelas arestas dos pensamentos, e tudo é natural, basta não teres medos excessivos. trata-se apenas de preservar o azul das tuas asas. Pareceu tranqüilizada com meus conselhos, tomou impulso e partiu em direção ao crepúsculo. Quando me preparava para dar volta e entrar novamente no quarto, percebi que os vizinhos me observavam. Não dei importância a isso, voltei às figurinhas. E novamente começou a acontecer a mesma coisa: algo como borbulhar, o espelho, a borboleta (essa era das roxas), depois a janela, o telhado, os conselhos. E os vizinhos e as figurinhas outra vez. Assim durante muito tempo. Já não era mais de tardezinha quando apareceu a primeira borboleta negra. No mesmo momento em que meu indicador e polegar tocaram suas asinhas viscosas, meu estômago contraiu-se violentamente, gritei e quebrei o objeto mais próximo. Não sei exatamente o que, sei apenas do ruído de cacos que fez, o que me deixa supor que se tratasse de um vaso de louça ou algo assim (creio que foi nesse momento que lembrei daquele som das noites de antes: as franjas do xale na parede caído sobre as cordas do violão de André quando rolávamos da cama para o chão). Pretendia quebrar mais coisas, gritar ainda mais alto, chorar também. Se conseguisse, porque tinha nojo e nunca mais . quando ouvi um rumor de passos no corredor e diversas pessoas invadiram o quarto. Acho que meu primeiro olhar para elas foi aquele que tive antigamente, cheguei a reconhecer alguns dos vizinhos que nos observavam sempre, o homem do bar da esquina, o jardineiro da casa em frente, o motorista do táxi, o síndico do edifício ao lado, a puta do chalé branco. Mas em seguida tudo se alargou e não consegui evitar de vê-las daqueles outros jeitos, embora não quisesse, e meu jeito de evitar isso era fechar os olhos, mas quando fechava os olhos ficava olhando pra dentro do meu próprio cérebro . e só encontrava nele uma infinidade de borboletas negras agitando nervosamente as asinhas pegajosas, atropelando-se para brotar logo entre os cabelos. Lutei por algum tempo. Tinha alguma esperança, embora fossem muitas mãos a segurar-me. Ao amanhecer do dia de hoje fui dominado. Chamaram um táxi e trouxeram-me para cá. Antes de entrar no táxi tentei sugerir, quem sabe aquele lugar de muito verde, pessoas amáveis e prestativas, todas distantes, um tanto pálidas, alguns lendo livros, outros cortando figurinhas. Mas eu sabia que eles não admitiriam: quem havia visto o que eu via não merecia perdão. Além disso, eu tinha desaprendido completamente a sua linguagem, a linguagem que também tive antes, e, embora com algum esforço conseguisse talvez recuperá-la, não valia a pena, era tão mentirosa, tão cheia de equívocos, cada palavra querendo dizer várias coisas em várias outras dimensões. Eu agora já não conseguia permanecer em apenas uma dimensão, como eles, cada palavra se alargava e invadia tantos e tantos reinos que, para não me perder, preferia ficar calado, atento apenas ao borbulhar das borboletas dentro do meu cérebro. Quando foram embora, depois de preencherem uma porção de papéis, olhei para um deles daquele mesmo jeito que André me olhara. E disse-lhe: – Só se pode encher um vaso até a borda. Nem uma gota a mais. Ele pareceu entender. Vi como se perturbava e tentava dizer, sem conseguir, alguma coisa para o médico de plantão, observei que baixava os olhos sobre o monte de papéis e a maneira indecisa com que atravessava o pátio, para depois deter-se ao portão de ferro, olhando para os lados, depois se foi, a pé. Em seguida os homens trouxeram-me e enfiaram uma agulha no meu braço. Tentei reagir, mas eram muito fortes. Um deles ficou de joelhos no meu peito enquanto o outro enfiava a agulha na veia. Afundei num fundo poço acolchoado de branco. Quando acordei, André me olhava dum jeito totalmente novo. Quase como o jeito antigo, mas muito mais intenso e calmo. Como se agora partilhássemos o mesmo reino. André sorriu. Depois estendeu a mão direita em direção aos meus cabelos, uniu o polegar ao indicador e, gentilmente, apanhou uma borboleta. Era das verdes. Depois baixou a cabeça, eu estendi os dedos para seus cabelos e apanhei outra borboleta. Era das amarelas. Como não havia telhados próximos, esvoaçavam pelo pátio enquanto falávamos juntos aquelas mesmas coisas, eu para as borboletas dele, ele para as minhas. Ficamos assim por muito tempo até que, sem querer, apanhei uma das negras e começamos a brigar. Mordi-o muitas vezes, tirando sangue da carne, enquanto ele cravava as unhas no meu rosto. Então vieram os homens, quatro desta vez. Dois deles puseram os joelhos sobre nossos peitos, enquanto os outros dois enfiavam agulhas em nossas veias. Antes de cairmos outra vez no poço acolchoado de branco, ainda conseguimos sorrir um para o outro, estender os dedos para nossos cabelos e, com os indicadores e polegares unidos, ao mesmo tempo, com muito cuidado, apanhar cada um uma borboleta. Essa era tão vermelha que parecia sangrar.
Caio Fernando Abreu

Pensamento do dia...

ESPÍRITOS EVOLUÍDOS

Há alguns anos, nas olimpíadas especiais de Seattle, nove participantes, todos com deficiência mental, alinharam-se para alargada da corrida de 100 metros rasos. Ao sinal, todos partiram, não exatamente em disparada, mas com vontade de dar o melhor de si, terminar a corrida e ganhar.

Um dos garotos tropeçou no asfalto, caiu e começou a chorar. Os outros ouviram o choro, diminuíram o passo e olharam para trás. Então viraram e voltaram. Todos eles.

Uma das meninas com Síndrome de Down ajoelhou, deu um beijo no garoto e disse:
- Pronto, agora vai sarar! E todos os nove competidores deram os braços e andaram juntos até a linha de chegada. O estádio inteiro levantou e os aplausos duraram muitos minutos...

Talvez os atletas fossem deficientes mentais.... Mas com certeza, não eram deficientes espirituais... Isso porque, lá no fundo, todos nós sabemos que o que importa nesta vida, mais do que ganhar sozinho é ajudar os outros a vencer, mesmo que isso signifique diminuir os nossos passos...

Procure ser uma pessoa de valor, em vez de procurar ser uma pessoa de sucesso.
O sucesso é conseqüência.

domingo, 23 de agosto de 2009

Boba (e não burra!)

Das Vantagens de ser Bobo.

“O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo”. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: “Estou fazendo, estou pensando.”.
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas.
O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver. O bobo parece nunca ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoiévski. Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era que o aparelho estava tão estragado que o concerto seria caríssimo: mais vale comprar outro.
Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e, portanto estar tranquilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu. Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê.
César terminou dizendo a célebre frase: “Até tu, Brutus?” Bobo não reclama. Em compensação, como exclama! Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação, os bobos ganham à vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás, não se importam que saibam que eles sabem. Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil).
Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas.
É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca.
É que só o bobo é capaz de excesso de amor.
E só o amor faz o bobo.“


Clarice Lispector

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Frida Kahlo




Hoje estou terminando o dia com uma sensação a la Frida Kahlo ...


Vai entender...


A Amelie (Poulain) pediu pra tirar uns dias de folga ...


domingo, 16 de agosto de 2009

Resposta a um anônimo.

" AMAR OS OUTROS É A ÚNICA SALVAÇÃO INDIVIDUAL QUE CONHEÇO: NINGUÉM ESTARÁ PERDIDO SE DER AMOR E ÀS VEZES RECEBER AMOR EM TROCA."
Clarice Lispector

De novo Ela!

"As árvores cresciam como se não houvesse no mundo senão árvores crescendo. Até que o sol escureceu, gente se aproximou, poços se multiplicaram e os mosquistos saíam do coração das flores: estava-se crescendo."

Clarice Lispector

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

"Serei leve e vaga como o que se sente e não se entende..."

"Não, não, nenhum Deus, eu quero estar só. E um dia virá, sim, um dia virá em mim a capacidade tão vermelha e afirmativa quanto clara e suave, um dia o que eu fizer será cegamente, seguramente, inconscientemente, pisando em mim, na minha verdade, tão integralmente lançada no que fizer que serei incapaz de falar, sobretudo um dia virá em que todo meu movimento será criação, nascimento.

Eu romperei todos os nãos que existem dentro de mim, provarei a mim mesma que nada há a temer, que tudo o que eu for será sempre onde haja uma mulher com meu princípio, erguerei dentro de mim o que sou um dia, a um gesto meu minhas vagas se levantarão poderosas, água pura submergindo a dúvida, a consciência, eu serei forte como a alma de um animal e quando eu falar serão palavras não pensadas e lentas, não levemente sentidas, não cheias de vontade de humanidade, não o passado corroendo o futuro! O que eu disser soará fatal e inteiro.

Não haverá nenhum espaço dentro de mim para eu saber que existe o tempo, os homens, as dimensões, não haverá nenhum espaço dentro de mim para notar sequer que estarei criando instante por instante, não instante por instante; sempre fundido, porque então viverei, só então serei maior que na infância, serei brutal e mal feita como uma pedra, serei leve e vaga como o que se sente e não se entende, me ultrapassarei em ondas.

Ah, Deus, e que tudo venha e caia sobre mim, até a compreensão de mim mesma em certos momentos brancos porque basta me cumprir e então nada impedirá o meu caminho até a morte sem medo de qualquer luta ou descanso me levantarei forte e bela como um cavalo novo."

Perto do coração selvagem
Clarice Lispector

TODO "O MUNDO" TINHA QUE CONHECER! AMOOOO!





A Trilha Sonora Da Vida
Maurício Baia
Composição: (Baia & Rockboys)

Jamais deixe de lado seu lado bom
Esqueça seu problema, venha curtir um som
Porque daqui pra frente tudo fica diferente
Vem a música mexer com a alma da gente

Quero te dar um abraço forte
Te desejar saúde, paz e muita sorte
Trazer pra sua vida muito mais do que alegria
Fazer do meu peito a sua moradia

No mais, a paz de te ter ao meu lado (é claro!)
E poder romancear
Viver os dias como cenas de cinema brasileiro
Onde o final feliz é só o começo da história a se
Traçar
Sem diretor, figurino ou roteiro teremos todos
Nossos dias inteiros para inventar
Em nosso filme cantaremos os nossos poemas e
Melodias

A trilha sonora da vida
Que eu trilho, eu trago e assopro no ar

INSPIRAÇÃO!

EXPELINDO COM ARTE, este foi o título que escolhi para essa imagem, criada em uma noite fria desse inverno...

Sinceramente, não sei bem o que ela me representa; apenas sei que me passa algo de bom. Muito bom! E único! E por isso fiz questão de postá-la.

Expelir com arte.... Acho que o título diz tudo.

O mais engraçado é que ninguém, até hoje, conseguiu acertar o que ela é, DE FATO! Alguém se atreve? (Uma única dica: olha a luz bem no meio dela... rs!)

A criação dessa imagem me foi a comprovação de que a INSPIRAÇÃO, assim como o amor, simplesmente é, flui !
Jai Gurudev!

terça-feira, 4 de agosto de 2009

***

"... E então sentiu uma tristeza.
Uma tristeza nova, muito funda e fria,
Seca e lisa como um espelho onde sem querer se via:
“Fui o melhor que pude e não fui suficiente”.
Nenhuma culpa. Alguma dor.

(só um silêncio bem lá dentro, úmido de lágrimas que não virão, feitas de algum riso antigo que não houve, que podia ter sido e não foi)."
Antonio Caetano

Bandeira!

" Preciso com urgência de uma namorada em Santa Teresa.
Porque estamos condenados ao amor e o amor só é possível em Santa Teresa.

Sim, percorri a cidade inteira, e só nas ruas desertas de Santa Teresa encontrei o silêncio habitado pela promessa do jasmim.

Sim, o silêncio, a solidão, as sombras não são ameaças nas noites de Santa Teresa. De lá, a cidade é só uma delicada trama de luzes que dialoga com o céu num morse mudo.

E há o próprio céu que em Santa semelha ser de seda tão próximos estamos dele. Por isso é urgente arranjar uma namorada que more lá e seja íntima dessas noites onde só o amor acontece e tudo mais é um lento persistir que nos acolhe e acalma.

Sim, percorri a cidade inteira, estive em todos os guetos, luminosos ou escusos, vi mulheres lindas, mulheres lindíssimas -mas nenhuma morava em Santa Teresa. Nenhuma tinha com a noite essa intimidade amorosa que só quem mora em Santa Teresa pode aprender.

Eu mesmo já morei - e namorei - em Santa Teresa. Tanto tempo faz e, agora que lembro, parece que foi ainda hoje. Porque Santa Teresa se escreve em letras esculpidas a fundo na alma da gente.

Santa Teresa é para sempre - por isso o amor só é possível lá.

Por isso, para mim, é urgente, é inadiável, ter uma namorada em Santa Teresa e passear com ela de mãos dadas no silêncio perfumado dessas ruas vazias. É, aliás, imprescindível, prioritário, percebo agora, uma namorada em Santa.

Pois é com certo horror que me dou conta que quase esquecera que eu também já morei um diaem Santa Teresa. Meu Deus, eu mesmo já reinei anônimo nessas ruas, eu mesmo já errei por elas sem perder-me...

Como pude quase esquecer-me desse que, no fundo (no fundo, não - no alto) ainda sou, se Santa Teresa, eu sei, é para sempre?

Não, não era isso - não era um personagem e sua geografia íntima o que a memória ingrata ameaçava esquecer no fundo de alguma gaveta sua...

Não - era algo de mais trágico, certamente. Era a dimensão do amor que se perdia pelas ruas da cidade baixa - com suas promessas rasas, seus objetivos concretos, seu horizonte plano e cheio de arestas. Era o amor que vinha se convertendo em simples desejo - de possuir, de consumir - de jamais conhecer.

Era o amor que se perdia, condenado a operar as vis compensações que se oferecem em troca da diária submissão de tudo que em mim pode haver de nobre e digno à lógica reles da Máquina de separar a alma do corpo: trabalho, insatisfação e consumo. Trabalho, insatisfação e consumo. Trabalho, insatisfação e consumo.

Não, chega....
Preciso de uma namorada em Santa Teresa. E tudo mais se conformará à sua natural desimportância. Porque não há carro, tv, filme, cd, roupa, nome, mulher, dinheiro que substitua com vantagem uma namorada em Santa Teresa.

Ao contrário, quem tem uma namorada em Santa Teresa não precisa de mais nada.

É isso, enfim: quero uma namorada em Santa Teresa porque só lá o amor é possível.

E, repito, estamos condenados ao amor e é o amor que eles nos roubam para convertê-lo no desejo insatisfeito que sustenta o consumo. É triste - e simples assim: vendemos o amor e em troca compramos coisas que definem qual o nosso lugar neste mundo - neste mundo onde as árvores crescem acanhadas e sem viço e os passarinhos cantam fora de hora.

E, por favor, leitor - não me confunda com algum romântico, anacrônico ou moderno. Sou realista e pragmático: não haverá Pasárgadas futuras ou além - há o amor em Santa Teresa - e tudo mais são ilusões compensatórias."

Antonio Caetano (http://www.cafeimpresso.com.br/)
Lu, obrigada! Amei! Amei! Amei!

AMO!



Teus Olhos
(Marcelo Camelo)

Teus olhos abrem pra mim
Todos os encantos
Teus olhos abrem pra mim
Teus olhos abrem pra mim
Todos os encantos bons
Tudo que se quer vai lá
Eu vi na terra
Você chegando assim
Assim, de um jeito tão sereno
Ai, ai, meu Deus do céu
Eu vivo sem pensar
Se sou só
Acho que não vou mais
Agora tudo tanto faz,
meu bem
Eu vi você passar
Levando meu encanto
Caminho sem saber de mim
Eu vivo sem pensar
Se sou só
ou sou mar
Mas eu conto com você
Pois enquanto eu não me resolver
Eu vou lá, eu vou lá
Mas enquanto eu não me resolver
Eu vou lá, eu vou lá

Vida líquida





















quarta-feira, 29 de julho de 2009

Mulherzinha sim. E daí?

Desde pequena mamãe me diz que meu nome foi inspirado nessa música (Baby, do Caetano) e não sei o porquê, mas toda vez que a escuto, sinto uma nostalgia infinita, lembrando de um tempo que não vivi. Sinto como se a pílula anticoncepcional, a emancipação da mulher, a globalização, a Internet, a pós-modernidade, tivessem roubado de mim a oportunidade de sonhar como nos tempos de outrora.

Isso não quer dizer que não dê importância a minha independência, às conquistas que, nós, mulheres, alcançamos nas últimas décadas, mas acho, sinceramente, que estamos nos esquecendo de preservar a melhor parte de tudo isso, a nossa essência feminina, sensível e maternal por natureza. Definitivamente, não estou aqui para competir com os homens por que sei muito bem a importância do papel que represento no palco da vida.


E é por isso que não tenho vergonha de dizer que sinto saudade da época em que se sonhava com o enxoval (nossa, essa palavra ainda existe?), com o marido ideal... Que as preocupações se limitavam ao cardápio do jantar, à casa arrumada, aos filhos... Sinto saudades de uma época em que se preservava o respeito, acima de tudo, e que ainda se acreditava na possibilidade de ser feliz para sempre.


Sei que essa imagem do passado é totalmente idealizada, fruto dos clássicos comerciais de Doriana, mas não é de hoje que ela caminha comigo. E sinto que para sempre a manterei intacta no hall das minhas melhores lembranças.


Tem horas que ser mulher independente me cansa.


segunda-feira, 20 de julho de 2009

Pipa avoada?

Tenho que confessar que uma das minhas características mais marcantes é ser muito crítica comigo mesma, às vezes até excessivamente. E essa característica, na maioria das vezes prejudicial a minha tão estimada paz interior, vez por outra acaba por trazer a tona uma das minhas maiores inimigas, a culpa. E quando ela entra no circuito, ai ai, tenho que tomar muito cuidado ... Mas de tanto já tê-la visto assombrando os meus dias, venho exercitando cada vez mais ignorá-la, em respeito ao meu grande lema de vida: transgredir, sempre que necessário, em respeito ao que SINTO real. E é então que percebo que se sentir plena e em paz pode ser possível mesmo diante dos olhos críticos da culpa. Sim, sim, isso é possível mas só àqueles que se sentem livres de regras e padrões incutidos em nós por sei lá quem, afinal de contas, o que é certo e errado, belo e feio, sensato e insano? Chega uma época na vida em que tudo se torna tão subjetivo... E é então que percebo que abrir-se ao novo, de alma lavada e coração estouvado, por mais estranho que possa parecer, é tarefa dos fortes e autores de seus próprios caminhos. E é aí que, instantaneamente, faço questão de dar mais linha na pipa para garantir um sono tranqüilo (ao menos por esta noite). A realidade se constrói a partir de fatos, que muitas vezes aparentam-se contraditórios, já que a vida é o maior dos mutantes. E que venha mais e mais vida para que eu possa, eternamente, exercitar a minha capacidade de transformação e de, quiçá, encontrar alguma forma de regenerar o velho, se isso for vontade daquele lá de cima. SEM MEDO DE SER FELIZ!

sábado, 18 de julho de 2009

Faith and Alertness

"Olhamos e compreendemos de acordo com o lugar onde nossos pés podem tocar."
(Paulo Freire)

"Apenas quando somos instruídos pela realidade é que podemos mudá-la."
(Bertolt Brecht)
"A mais brilhante das aparências pode cobrir as mais vulgares realidades."
( Juana Inés de la Cruz )
"Nunca te é concedido um desejo sem que te seja concedida também a facilidade de torná-lo realidade. Entretanto, é possível que tenhas que lutar por ele."
(Richard Bach)
"Para tornar a realidade suportável, todos temos de cultivar em nós certas pequenas loucuras."
(Marcel Proust)
"Tua caminhada ainda não terminou.... A realidade te acolhe dizendo que pela frente o horizonte da vida necessita de tuas palavras e do teu silêncio. Se amanhã sentires saudades, lembra-te da fantasia e sonha com tua próxima vitória.Vitória que todas as armas do mundo jamais conseguirão obter, porque é uma vitória que surge da paz e não do ressentimento. É certo que irás encontrar situações tempestuosas novamente, mas haverá de ver sempre o lado bom da chuva que cai e não a faceta do raio que destrói. Tu és jovem. Atender a quem te chama é belo, lutar por quem te rejeita é quase chegar a perfeição. A juventude precisa de sonhos e se nutrir de lembranças, assim como o leito dos rios precisa da água que rola e o coração necessita de afeto. Não faças do amanhã o sinônimo de nunca, nem o ontem te seja o mesmo que nunca mais.Teus passos ficaram. Olhes para trás... mas vá em frente pois há muitos que precisam que chegues para poderem seguir-te."
(Charles Chaplin)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O Menino Ineperado - reflexões sobre o medo.


“Nunca existo, se alguém não me inventar!
Também não adianta fingir que não é contigo e me deixar pra lá.
Desse modo, vou te seguir, vou te impedir,vou te prejudicar,
além de te atazanar.
E como uma indesejável sombra,
sempre te acompanhar.
Um dia você tem que se virar,
olhar pra mim,
perguntar,
me ver indagar e ao mesmo tempo responder:
Eu sou o seu MEDO, pareço maior que você?
Aí então você vai entender que ao me encarar,
pode se curar,
pode me desmanchar,
posso desaparecer,
pra você conhecer minha melhor vantagem.
É que nessa hora, eu me transformo, no pai da coragem.”
O Menino Inesperado, Elisa Lucinda.

Tributo à SINCERIDADE

"A sinceridade destrói castelos de areia. É a realidade sem anestesia. Ela não estimula reticências, não teatraliza as relações humanas, não debocha da credulidade alheia, não falsifica impressões. A sinceridade é de vanguarda. É tão soberana que emudece a todos. É tão inesperada que impede retaliações. A sinceridade é o ponto final de qualquer discussão.
Quer deixar alguém perplexo? Fale a verdade."
Marth Medeiros. Escandalosa Sinceridade, 12.07.09,Revista (O Globo), pg. 22.
" A ÚNICA COISA QUE AINDA ESCANDALIZA HOJE EM DIA É A SINCERIDADE"
Domingos de Oliveira

Idiossincrasias da vida moderna

Não quero construir minha realidade sob a égide do romantismo hipnótico das idealizações e projeções edípicas, nem tão pouco sob a solidão falsamente preenchida e histericamente disfarçada pelo consumo de qualquer coisa. Julgo essa explosão de viciados em tudo - drogas lícitas, ilícitas, sexo, compras, trabalho, fitness, 'amor', etc, etc – caminhando de mãos dadas a um vazio entorpecente que se propaga por entre corações / mentes humanas, como a maior evidência de que algo primordial e insubstituível está sendo procurado no lugar errado. Onde será que se deseja chegar? O que se quer para si? Por que comumente nos comportamos de forma tão antagônica em relação a nossos desejos? Bipolaridade? Ambivalência emocional é insanidade? Contradição em demasia é maldade.

domingo, 12 de julho de 2009

Reality

Amiga Gabi, mais uma vez não resisti... Foi além de mim!
Obrigada por suas palavras sábias e explendidas!!!!!

Transcrevo abaixo, mais uma vez, um post recente de uma amiga virtual muito querida, from The Big Bag of Dreams! (VISITEM ESSE BLOG!!!!)


"This is fact not fiction, for the first time in years"


Eu já tentei parar de ficar querendo saber o que vai acontecer. Já tentei vencer a briga com a imaginação que teima em ficar criando histórias. Já tentei parar de fazer com que um grão de arroz se transforme em um risoto. Mas, fazer isso é como conseguir comer só uma pipoca. Mas apesar disso, pode não parecer, a verdade é que essa sonhadora aqui, não quer viver um conto de fada, aqui não tem a ingênuidade de desejar isso, "faz de conta" não leva a lugar nenhum, porque é de mentira. Contraditório uma sonhadora ir atrás do que é real? Na verdade, não. O verdadeiro sonhador não é alienado. O verdadeiro sonhador é que aquele que só sonha porque ele sabe dar valor ao que ele vive e já conquistou e, por isso mesmo, que ele continua tendo vontade de sonhar. O verdadeiro sonhador não sonha por sonhar, ele sonha porque ele vê a realidade e o que está além dela, isso que dá a esperança de que um dia aquilo vai virar realidade. Para o verdadeiro sonhador o sonho não é algo abstrato, ele é tão promissor quanto uma semente, tão intrigante e provocante como o trailer de um filme que ainda vai passar. Sim, filme. E esse filme nem precisa ser mega produção com os clichês mamão com açucar. Quem disse que todo filme precisa ser ilusão? Por que todo mundo teima em criar padrões? Por que todos acham que toda sonhadora quer viver algo ideal, algo perfeito, algo eterno? Existem sonhos de todos os tipos, ninguém entende?! Um dos meus é viver algo real. E o real pode ser simples, e/ou intenso, e/ou cheio de imperfeições, e/ou engraçado, e/ou cheio de dor de crescimento, e/ou dure o suficiente. Tanto faz! Só precisa ser real...

"I might still be a little seed floating around in the sky waiting for someone to come and get me"

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Somaterapia: INCRÍVEL !



O Seu Amor
Doces Barbaros
Composição: Gilberto Gil

O seu amor
Ame-o e deixe-o
Livre para amar
Livre para amar
Livre para amar
O seu amor
Ame-o e deixe-o
Ir aonde quiser
Ir aonde quiser
Ir aonde quiser
O seu amor
Ame-o e deixe-o brincar
Ame-o e deixe-o correr
Ame-o e deixe-o cansar
Ame-o e deixe-o dormir em paz
O seu amor
Ame-o e deixe-o
Ser o que ele é
Ser o que ele é
Ser o que ele é.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Again and again and again

Tem horas que a vida engata, prende, da nó.
Tem outras que a vida desata, cede, vai só.
Hora ou outra o controle falha,
A rédea encurta,
O vento leva...

E lá vamos nós de novo ...

Para o alto e avanteeeeee! :)

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Nobreza de alma

Durante um bom tempo, mantive no perfil do Orkut como sendo minha atividade “fazer o bem sem olhar a quem”. Essa expressão, que de fato retratava o que realmente procuro fazer no meu dia a dia, através de simples gestos, acabou me soando piegas em razão de algumas críticas que recebi. Resultado: exclui essa descrição do Orkut.

Mas ontem, ao ler a Vida Simples desse mês, acabei voltando a pensar no assunto e resolvi transcrever uma passagem do artigo que li. Lá vai...

“ Todos temos algo para dar. Pode ser dinheiro ou bens materiais, as associações mais comuns quando pensamos em generosidade. Mas também pode ser conhecimento, coisas que nós sabemos e que podem ajudar os outros. Pode ser um abraço, uma palavra de conforto, um carinho. Afinal, a generosidade é, antes de mais nada, uma inclinação do espírito para fazer o bem. A palavra vem do latim “generositas”, que significa “de origem nobre”. Com o tempo, passou a significar a nobreza não de nascimento, mas de espírito.

... apesar de ter se tornado artigo raro, a generosidade foi responsável pela sobrevivência do ser humano como espécie. Lá nos primórdios, quando o homem ainda morava nas cavernas e caçava para sobreviver, era essencial que o grupo se mantivesse unido. Quem dava sorte na caçada distribuía carne para quem não tinha conseguido nada. Mais para a frente, a situação se invertia e quem tinha sido ajudado da primeira vez retribuía o favor, e assim ninguém passava fome. Os espertinhos que só queriam saber de aproveitar da caça dos outros, sem retribuir, eram logo excluídos do grupo. Esse comportamento é conhecido na sociobiologia como “altruísmo recíproco” e foi descrito pelo pesquisador americano Robert Trivers nos anos 70.

Nesse ponto, é bom fazer uma distinção entre altruísmo e generosidade. Segundo o filósofo e educador Mario Sergio Cortella, as duas virtudes são boas, mas diferentes. Agir esperando alguma espécie de retribuição seria altruísmo, representado no lema “faça aos outros o que querem que façam contigo”. A generosidade seria a prática desinteressada, feita mesmo quando se sabe que não haverá recompensa, cujo mote é “faça o bem porque é bom fazer”. Essa separação é útil do ponto de vista filosófico. Na prática, porém, de pouco serve. É desnecessário ficar pensando em quais foram suas motivações para ajudar o próximo. Ninguém precisa ficar se gabando porque doou dinheiro para uma entidade beneficente. Mas não é pecado se sentir bem depois de uma boa ação. Esse pensamento de que é errado sentir prazer ao doar serve para nos distanciar ainda mais da prática da generosidade. Sob esse ponto de vista, enquanto não tivermos razões 100% sinceras e desinteressadas para ajudar alguém, não vale a pena fazê-lo. E nossas razões nunca serão 100% puras, sinceras e desinteressadas, afinal, fazer o bem faz bem.

Considerado o pai da filosofia e da matemática modernas, o pensador francês René Descartes também deu seus pitacos sobre a generosidade. Dela, dizia que é a consciência de ser livre e fazer bom uso dessa liberdade, ou seja, agir de forma virtuosa. Para ele, saber-se senhor dessa liberdade, e usá-la para ajudar os outros, fazia um bem danado para a pessoa, produzindo auto-estima. “E é por gostar de si próprio que o generoso passa a estimar também o outro, reconhecendo nele o mesmo potencial para a virtude”, diz o filósofo Jorge Quintas, que escreveu um trabalho acadêmico sobre a generosidade em Descartes. Um dos grandes psicanalistas da história, Donald Winnicott, foi ainda mais longe, afirmando que não conseguir doar pode fazer mal para a pessoa. Sem essa capacidade de se preocupar com o outro, ficamos desequilibrados, perdemos o sentido de viver.

“Clarice Lispector já disse: ‘Todos querem a liberdade, mas quem por ela trabalha?’ ”, diz o cientista político Leonardo Sakamoto, fundador da ONG Repórter Brasil, que defende os direitos humanos. A organização ajudou a libertar trabalhadores da escravidão, denunciou a prostituição infantil e abusos cometidos contra comunidades ribeirinhas, entre outras atividades. Leonardo, que também dá aulas praticamente de graça para membros da comunidade e alunos da USP, nunca ganhou por seu trabalho na ONG. Atualmente, vive da bolsa concedida pela Ashoca, entidade que financia empreendedores sociais do mundo todo. “Levo uma vida modesta. Não estou aqui para ter o carro do ano. Nada contra quem tem, só que eu optei por uma vida menos confortável, mas que me realiza plenamente”, diz ele.

Porém, a generosidade é uma virtude mais celebrada que praticada. “A generosidade só brilha, na maioria das vezes, por sua ausência”, escreveu o filósofo francês Comte- Sponville no livro Pequeno Tratado das Grandes Virtudes.

Se a generosidade se tornou artigo raro, um pouco da culpa é da sociedade atual, calcada em valores como egoísmo e individualismo. “Pensamos muito em nosso próprio umbigo e pouco no dos outros”, diz Mario Sergio Cortella. Para ele, isso é ainda mais forte nas classes mais altas. “Na favela, se desaba um barraco, a vizinha acolhe os filhos da que perdeu a casa, dizendo ‘onde comem dez comem 15’. Na classe média, às vezes as pessoas nem sabem o que fazer com os pais idosos”, diz. Isso acontece porque, nas favelas, ainda impera o espírito de cooperação que guiou nossos antepassados na época das cavernas. Sem a ajuda do vizinho, não se sobrevive.

(...)

Um dos mecanismos que a sociedade sempre teve para educar para o bem foram as religiões. Como sempre foram preocupadas com a moral, as crenças em um poder superior costumam estimular virtudes como a generosidade, a solidariedade, a compaixão. “Ninguém nasce generoso”, diz o reverendo Alderi Sousa de Matos, professor de História da Igreja do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, da Universidade Mackenzie. ‘É preciso aprender.’ ”
Sinceramente, ainda não sou tão nobre assim. Falta muitoooooo. Tenho que admitir que volta e meia sucumbo a atitudes extremamente egoístas, mas acredito que o importante é se manter alerta e consciente o tempo todo, afinal de contas, a paz, que para mim está intrinsecamente ligada à generosidade, só é alcançada a custo de muito exercício !!!!

quarta-feira, 24 de junho de 2009

QUE HONRA!

Ontem foi meu aniversário!!!! Tive um dia mais que especial! Muito mesmo! E devo isso a meus amigos mais que queridos (e aí incluem-se mommy e Bru, é claro!)! Muito, muito obrigada por tudo!

E faço questão de deixar registrado aqui um agradecimento especial a super Bia, que tornou o meu dia ainda mais colorido! E, além de tudo, escreveu em seu blog, Arte da Palavra, palavras mais que especiais sobre essa pessoa que vos fala, as quais transcrevo abaixo.

Hoje é aniversário de uma alguém muito especial. Uma certa alguém curiosa, interessante, cheia de vida, difícil de ser definida por palavras apenas, com um olhar radiante e distante. Uma certa alguém que nos intriga diariamente, que nos faz pensar. Uma artista inata, com perspectivas inocentes em sua arte. Um pouco menina, um pouco moleca, um pouco adulta, um muito guerreira. É frágil dentro de sua fortaleza, e forte dentro de sua fragilidade. Uma certo alguém que tem uma gargalhada gostosa, um sorriso único e sonhos palpáveis. Sabe descrever sentimentos, mas tem medo de senti-los. Possui medos mas não tem medo de senti-los. Gosta de obstáculos, pois gosta de vencer. Não tem medo de cair pois sabe o gosto de levantar. Tem bloqueios como todo artista, mas desistir é um verbo que não existe em seu vocabulário. Foge das convenções, se agarra em sua autenticidade, ouve, fala, sente, faz, age e acima de tudo, simplesmente É. Sim, ela é. Prefere o verbo SER ao ESTAR. E eu sou eternamente grata a vida por tê-la colocado em minha vida. Sou grata as fases, as possibilidades, as curiosidades, aos encontros e reencontros. Parabéns querida e linda amiga. um beijo carinhoso e um abraço apertado!"
JAI GURUDEV!!!!!!!!!!

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Ponto de Mutação


"Ao término de um período de decadência sobrevém o ponto de mutação. A luz poderosa que fora banida ressurge. Há movimento, mas este não é gerado pela força. O movimento é natural, surge espontaneamente. Por essa razão, a transformação do antigo torna-se fácil. O velho é descartado, e o novo é introduzido. Ambas as medidas se harmonizam com o tempo, não resultando daí, portanto, nenhum dano."

I Ching

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Aproveite bem o seu dia

Por Adriano Silva 04/06/2009 – Revista Exame

Aí um dia você toma um avião para Paris, a lazer ou a trabalho, em um vôo da Air France, em que a comida e a bebida têm a obrigação de oferecer a melhor experiência gastronômica de bordo do mundo, e o avião mergulha para a morte no meio do Oceano Atlântico. Sem que você perceba, ou possa fazer qualquer coisa a respeito, sua vida acabou. Numa bola de fogo ou nos 4 000 metros de água congelante abaixo de você naquele mar sem fim. Você que tinha acabado de conseguir dormir na poltrona ou de colocar os fones de ouvido para assistir ao primeiro filme da noite ou de saborear uma segunda taça de vinho tinto com o cobertorzinho do avião sobre os joelhos. Talvez você tenha tido tempo de ter a consciência do fim, de que tudo terminava ali. Talvez você nem tenha tido a chance de se dar conta disso. Fim.

Tudo que ia pela sua cabeça desaparece do mundo sem deixar vestígios. Como se jamais tivesse existido. Seus planos de trocar de emprego ou de expandir os negócios. Seu amor imenso pelos filhos e sua tremenda incapacidade de expressar esse amor. Seu medo da velhice, suas preocupações em relação à aposentadoria. Sua insegurança em relação ao seu real talento, às chances de sobrevivência de suas competências nesse mundo que troca de regras a cada seis meses. Seu receio de que sua mulher, de cuja afeição você depende mais do que imagina, um dia lhe deixe. Ou pior: que permaneça com você infeliz, tendo deixado de amá-lo. Seus sonhos de trocar de casa, sua torcida para que seu time faça uma boa temporada, o tesão que você sente pela ascensorista com ar triste. Suas noites de insônia, essa sinusite que você está desenvolvendo, suas saudades do cigarro. Os planos de voltar à academia, a grande contabilidade (nem sempre com saldo positivo) dos amores e dos ódios que você angariou e destilou pela vida, as dezenas de pequenos problemas cotidianos que você tinha anotado na agenda para resolver assim que tivesse tempo. Bastou um segundo para que tudo isso fosse desligado. Para que todo esse universo pessoal que tantas vezes lhe pesou toneladas tenha se apagado. Como uma lâmpada que acaba e não volta a acender mais. Fim.
Então, aproveite bem o seu dia. Extraia dele todos os bons sentimentos possíveis. Não deixe nada para depois. Diga o que tem para dizer. Demonstre. Seja você mesmo. Não guarde lixo dentro de casa. Não cultive amarguras e sofrimentos. Prefira o sorriso. Dê risada de tudo, de si mesmo. Não adie alegrias nem contentamentos nem sabores bons. Seja feliz. Hoje. Amanhã é uma ilusão. Ontem é uma lembrança.

No fundo, só existe o hoje.

REVOLUÇÃO

Acreditando que não somos nada mas ESTAMOS TUDO e que sábios são aqueles que fazem as melhores perguntas, deixei-me divagar em busca da minha REAL IDENTIDADE.

Já parou pra pensar nisso? Quem seria você se te inserissem num filtro que lhe tirasse todo e qualquer padrão social e familiar enraizado? Será que sobraria alguma coisa? O que constitui de fato a sua essência? Será que nascemos com ela ou que ela é construída pelo meio em que vivemos? Ou será os dois?

Por essas e outras questões concluo que jamais, jamais me identificarei com o adjetivo “convencional”. Não, não sou convencional e procuro seguir justamente o caminho contrário.

Abaixo as regras, rótulos, máscaras, discursos infundados, tolos, vis! Abaixo a ditadura da sociedade de consumo! Abaixo o amor líquido! Abaixo o fim da poesia! Abaixo o ostracismo, a cultura do medo!

VIVA A PERSEGUIÇÃO DO QUE SE SENTE SENDO, MESMO QUE POR UM INSTANTE!

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Ter ou não ter namorado, eis a questão!

"Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não renumeradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil, mas namorado mesmo, é muito difícil.
Namorado não precisa ser o mais bonito, mas aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado, a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda, decidida, ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.
Quem não tem namorado não é quem não tem um amor, é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes, mesmo assim pode não ter namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Não tem namorado quem transa sem carinho, quem acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria.
Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade, ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar. Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora em que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinicius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar, de gargalhar quando fala junto ou descobre a meia rasgada; de ânsia enorme de viajar para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.
Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, fazer sesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor.
Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira d'água, show do Milton Nascimento, bosque enluarado, ruas de sonhos ou musicais da metro. Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não se chateia com o fato de o seu bem ser paquerado.
Não tem namorado quem ama sem gostar, quem gosta sem curtir, quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou no meio-dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir com ele. Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.
Se você não tem namorado porque descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e de medo, ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras, e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo da sua janela. Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fadas. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria.
Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido. Enlou-cresça !!!!!"
Artur da Távola