terça-feira, 7 de abril de 2009

Bailarina

O burburinho na coxia, o corre-corre da produção, a apreensão estampada nos rostos, tudo ao meu redor evidenciava que era chegado, enfim, o grande momento: o espetáculo estava prestes a começar!

Olhei-me pela última vez no espelho e reconheci o meu figurino finamente modelado e as minhas feições, delicadas e belas. Sem nenhuma modéstia, reconheci naquele exato instante o porquê de ter sido eu a bailarina escolhida para representar tão nobre papel. Logo em seguida corri majestosa para minha posição, bem ali, no centro daquele esplendoroso palco, sede de tantos outros inesquecíveis espetáculos.

Subitamente, tomei consciência de que atrás daquelas enormes cortinas de veludo vermelho, encontrava-se a postos a maior e mais nobre platéia a que já tinha me apresentado em toda a vida.

De imediato, senti-me ruborizar. E foi então que olhei para os lados e vi no olhar de toda a equipe um único desejo dirigido em minha direção: sorte, todos gritavam com os olhos. Naquele momento, a enorme cortina lentamente começou a ser aberta e eu, como que por encanto, esqueci todo o temor e transmiti ao público, de forma bela e sutil, movimentos d’alma, todos nascidos de um mesmo progenitor: o meu amor pela dança.

Dali em diante, deixei de lado toda a timidez que ainda morava em mim e deixei-me ir. Dancei como se ninguém estivesse olhando. Dediquei-me ao máximo a cada movimento. Superei novamente todas as limitações de meu corpo. E alcancei a perfeição.

Senti-me tão absorta em estar exatamente ali, mostrando ao meu público o que de mais belo tinha a transmitir, que ficou em mim a sensação de que uma hora de espetáculo havia se passado em poucos instantes. Mas o grande espetáculo da minha vida havia chegado ao fim. E, ainda ofegante e estonteada com a aclamação do grande público, reconheci no olhar da pequena bailarina, sentada na primeira fileira, a mim mesma. Naquele exato momento, tomei consciência de todo o esforço que havia sido necessário para alcançar tão sonhada apoteose e coroar-me, legitimamente, Primeira Bailarina do Teatro Municipal do MEU Reino da Fantasia.

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